O Instituto Moreira
Salles do Rio de Janeiro abre no dia 9 de agosto (sexta-feira), às 18h, a
exposição Poesia Marginal - Palavra e Livro, com curadoria do poeta
e consultor de literatura do IMS Eucanaã Ferraz. Na abertura, o encontro de duas gerações de
autores, numa leitura de poemas ao ar livre, informal, no molde das famosas
artimanhas dos anos 1970: Bernardo Vilhena, Charles Peixoto, Luis Olavo Fontes
e Nicolas Behr, os marginais que terão seus livros expostos; Alice Sant'Anna, Augusto
de Guimaraens Cavalcanti, Ismar Tirelli Neto, Laura Liuzzi ,
Leonardo Gandolfi, Mariano Marovatto, Marília Garcia, Sylvio Fraga Neto e Victor
Heringer, jovens afinados com a postura e a estética daqueles primeiros.
Serão expostas cerca
de 60 publicações, sobretudo livros da década de 1970, época em que a poesia marginal
teve sua grande expressão. São publicações de autores como Ana Cristina Cesar,
Cacaso, Chico Alvim, Geraldo Carneiro, Roberto Schwarz, Chacal, Bernardo
Vilhena, Guilherme Mandaro, Eudoro Augusto, Zuca Sardan, Luis Olavo Fontes,
entre outros, que organizaram grupos e selos literários como Frenesi, Nuvem cigana, Vida de artista, e Capricho. Há também livretos mimeografados, como os de
Nicolas Behr, fotografias e revistas literárias relacionadas a esta época, como
a Navilouca e as duas edições do Almanaque Biotônico Vitalidade.
A poesia marginal
fez dos livros instrumento privilegiado. Sem muito dinheiro, os autores
inventaram meios de editar suas publicações, sem depender das editoras, que
eram pouco receptivas a um gênero nada comercial. Tudo começou com o
mimeógrafo, na época, o principal equipamento de reprodução de textos nas
escolas, que serviu ao movimento estudantil para espalhar mensagens políticas. Os
poetas utilizavam estêncil; xerox; ofsete; grampos em vez de costura; envelopes
e sacos em vez de encadernação; papéis de baixo preço e considerados toscos, como
o Kraft; impressão em, no máximo, duas
cores; carimbos. “O livro mais barato era mais acessível e, portanto, poderia
alcançar mais leitores; opunha-se de cara ao livro caro, ao objeto requintado
da alta cultura, às soluções caras do esnobe mercado editorial. O livro barato
era um objeto político: antiburguês”, explica o curador Eucanaã Ferraz. “Esses
livros construíram uma estética singular, surpreendentemente inovadora e
sofisticada. Como linguagem – basta vê-los hoje –, são, sem dúvida, ricos,
porque carreiam diversos significados, espelhando graficamente seus conteúdos –
o verso veloz, insolente, próximo da fala cotidiana, com o humour e a ironia
vizinhos à confissão áspera ou a certa sensibilidade romanesca. Tradição
literária, vanguardas, mundo pop, tudo tinha lugar”, completa. Estética e
atitude existencial se fundiam contra a ditadura e a caretice.
A
exposição será antecedida pela mostra de cinema Minhocas arejam a terra; poetas,
a linguagem entre os dias 2 e 8 de agosto. Serão exibidos sete filmes: Assaltaram a gramática, de Ana Maria Magalhães
(Brasil, 1984. 13’ ),
um perfil dos poetas Francisco Alvim, Paulo Leminski, Waly Salomão, Chacal e
Ana Cristina César; Gregório de Mattos, de Ana Carolina Teixeira
Soares (Brasil, 2003. 70’ );
Batuque dos astros, de Julio Bressane (Brasil,
2013. 74’ ),
sobre Fernando Pessoa; Caramujo flor, de Joel Pizzini (Brasil,
1989. 20’ ),
sobre Manoel de Barros; O canto e a
fúria, de Zelito
Viana (Brasil, 1994. 55’ ),
sobre Ferreira Gullar; Pan-cinema
permanente, de Carlos
Nader (Brasil, 2008. 83’ ),
sobre Waly Salomão; e Ex-isto, de Cao Guimarães (Brasil,
2010. 86’ ),
sobre Paulo Leminski. São produções sobre poesia, feitas com a preocupação de
arejar a linguagem do cinema sob influência direta dos poetas escolhidos como
personagens.
A programação pode ser vista aqui: http://ims.uol.com.br/programacao/D1153
Programação da
mostra
SEXTA | 02 DE AGOSTO
14h00: Assaltaram a gramática, de Ana Maria
Magalhães (Brasil, 1984. 13’ )
Um
perfil dos poetas Francisco Alvim, Paulo Leminski, Waly Salomão e Chacal, e uma
homenagem a Ana Cristina César, por meio de poemas e textos expressivos. A
música Assaltaram a gramática, de Lulu Santos e Waly Salomão, foi gravada
especialmente para o filme.
Gregório de Mattos, de Ana Carolina
Teixeira Soares (Brasil, 2003. 70’ )
Originalmente
o filme chamava-se Gema a quem gemer, ou o pouco que se sabe sobre
Gregório de Mattos e como esse título é obviamente muito literário optei
por usar somente o nome do poeta” – esclarece a diretora. “Mas a verdade
verdadeira é que se nos dedicássemos realmente a ler suas poesias o
conheceríamos melhor do que muita gente que convive diariamente conosco. Tudo
isso só para dizer que Gregório de Mattos é uma ficção ele mesmo”.
18h00: Batuque dos astros, de Julio Bressane
(Brasil, 2013. 74’ )
SÁBADO
| 03 DE AGOSTO
14h00: Caramujo flor, de Joel Pizzini (Brasil,
1989. 20’ )
Através de uma colagem de fragmentos
visuais e sonoros, uma imersão na poesia múltipla de Manoel de Barros.
O canto e a fúria, de Zelito
Viana (Brasil, 1994. 55’ )
Ferreira Gullar, o autor do
celebrado Poema sujo (1975) comenta sua vida, seu engajamento
político e lê alguns de seus trabalhos favoritos.
18h00: Batuque dos astros, de Julio Bressane
(Brasil, 2013. 74’ )
DOMINGO
| 04 DE AGOSTO
14h00: Pan-cinema permanente, de Carlos Nader
(Brasil, 2008. 83’ )
Retrato sem retoques do poeta e compositor
baiano Waly Salomão.
18h00: Ex-isto, de Cao Guimarães (Brasil,
2010. 86’ )
Livremente inspirado na obra Catatau,
de Paulo Leminski, que imaginou uma hipótese poética/histórica: e se René
Descartes tivesse vindo ao Brasil com Maurício de Nassau?.
TERÇA
| 06 DE AGOSTO
14h00: Pan-cinema permanente,
de Carlos Nader (Brasil, 2008. 83’ )
QUARTA
| 07 DE AGOSTO
14h00: Assaltaram a gramática, de Ana Maria
Magalhães (Brasil, 1984. 13’ )
Gregório de Mattos, de Ana Carolina
Teixeira Soares (Brasil, 2003. 70’ )
QUINTA
| 08 DE AGOSTO
14h00: Caramujo flor, de Joel Pizzini (Brasil,
1989. 20’ )
O canto e a fúria, de Zelito Viana
(Brasil, 1994. 55’ )
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