sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Exposição sobre poesia marginal no IMS



O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro abre no dia 9 de agosto (sexta-feira), às 18h, a exposição Poesia Marginal - Palavra e Livro, com curadoria do poeta e consultor de literatura do IMS Eucanaã Ferraz.  Na abertura, o encontro de duas gerações de autores, numa leitura de poemas ao ar livre, informal, no molde das famosas artimanhas dos anos 1970: Bernardo Vilhena, Charles Peixoto, Luis Olavo Fontes e Nicolas Behr, os marginais que terão seus livros expostos; Alice Sant'Anna, Augusto de Guimaraens Cavalcanti, Ismar Tirelli Neto, Laura Liuzzi, Leonardo Gandolfi, Mariano Marovatto, Marília Garcia, Sylvio Fraga Neto e Victor Heringer, jovens afinados com a postura e a estética daqueles primeiros.

Serão expostas cerca de 60 publicações, sobretudo livros da década de 1970, época em que a poesia marginal teve sua grande expressão. São publicações de autores como Ana Cristina Cesar, Cacaso, Chico Alvim, Geraldo Carneiro, Roberto Schwarz, Chacal, Bernardo Vilhena, Guilherme Mandaro, Eudoro Augusto, Zuca Sardan, Luis Olavo Fontes, entre outros, que organizaram grupos e selos literários como Frenesi, Nuvem cigana, Vida de artista, e Capricho. Há também livretos mimeografados, como os de Nicolas Behr, fotografias e revistas literárias relacionadas a esta época, como a Navilouca e as duas edições do Almanaque Biotônico Vitalidade.

A poesia marginal fez dos livros instrumento privilegiado. Sem muito dinheiro, os autores inventaram meios de editar suas publicações, sem depender das editoras, que eram pouco receptivas a um gênero nada comercial. Tudo começou com o mimeógrafo, na época, o principal equipamento de reprodução de textos nas escolas, que serviu ao movimento estudantil para espalhar mensagens políticas. Os poetas utilizavam estêncil; xerox; ofsete; grampos em vez de costura; envelopes e sacos em vez de encadernação; papéis de baixo preço e considerados toscos, como o Kraft;  impressão em, no máximo, duas cores; carimbos. “O livro mais barato era mais acessível e, portanto, poderia alcançar mais leitores; opunha-se de cara ao livro caro, ao objeto requintado da alta cultura, às soluções caras do esnobe mercado editorial. O livro barato era um objeto político: antiburguês”, explica o curador Eucanaã Ferraz. “Esses livros construíram uma estética singular, surpreendentemente inovadora e sofisticada. Como linguagem – basta vê-los hoje –, são, sem dúvida, ricos, porque carreiam diversos significados, espelhando graficamente seus conteúdos – o verso veloz, insolente, próximo da fala cotidiana, com o humour e a ironia vizinhos à confissão áspera ou a certa sensibilidade romanesca. Tradição literária, vanguardas, mundo pop, tudo tinha lugar”, completa. Estética e atitude existencial se fundiam contra a ditadura e a caretice.

A exposição será antecedida pela mostra de cinema Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem entre os dias 2 e 8 de agosto. Serão exibidos sete filmes: Assaltaram a gramática, de Ana Maria Magalhães (Brasil, 1984. 13’), um perfil dos poetas Francisco Alvim, Paulo Leminski, Waly Salomão, Chacal e Ana Cristina César; Gregório de Mattos, de Ana Carolina Teixeira Soares (Brasil, 2003. 70’); Batuque dos astros, de Julio Bressane (Brasil, 2013. 74’), sobre Fernando Pessoa; Caramujo flor, de Joel Pizzini (Brasil, 1989. 20’), sobre Manoel de Barros; O canto e a fúria, de Zelito Viana (Brasil, 1994. 55’), sobre Ferreira Gullar; Pan-cinema permanente, de Carlos Nader (Brasil, 2008. 83’), sobre Waly Salomão; e Ex-isto, de Cao Guimarães (Brasil, 2010. 86’), sobre Paulo Leminski. São produções sobre poesia, feitas com a preocupação de arejar a linguagem do cinema sob influência direta dos poetas escolhidos como personagens. 

A programação pode ser vista aqui: http://ims.uol.com.br/programacao/D1153


Programação da mostra

SEXTA | 02 DE AGOSTO

14h00: Assaltaram a gramática, de Ana Maria Magalhães (Brasil, 1984. 13’)
Um perfil dos poetas Francisco Alvim, Paulo Leminski, Waly Salomão e Chacal, e uma homenagem a Ana Cristina César, por meio de poemas e textos expressivos. A música Assaltaram a gramática, de Lulu Santos e Waly Salomão, foi gravada especialmente para o filme.

Gregório de Mattos, de Ana Carolina Teixeira Soares (Brasil, 2003. 70’)
Originalmente o filme  chamava-se Gema a quem gemer, ou o pouco que se sabe sobre Gregório de Mattos e como esse título é obviamente muito literário optei por usar somente  o nome do poeta” – esclarece a diretora. “Mas a verdade verdadeira é que se nos dedicássemos realmente a ler suas poesias o conheceríamos melhor do que muita gente que convive diariamente conosco. Tudo isso só para dizer que Gregório de Mattos é uma ficção ele mesmo”.

18h00: Batuque dos astros, de Julio Bressane (Brasil, 2013. 74’)

SÁBADO | 03 DE AGOSTO
14h00: Caramujo flor, de Joel Pizzini (Brasil, 1989. 20’)
Através de uma colagem de fragmentos visuais e sonoros, uma imersão na poesia múltipla de Manoel de Barros.

O canto e a fúria, de Zelito Viana (Brasil, 1994. 55’)
Ferreira Gullar, o autor do celebrado Poema sujo (1975) comenta sua vida, seu engajamento político e lê alguns de seus trabalhos favoritos.
18h00: Batuque dos astros, de Julio Bressane (Brasil, 2013. 74’)

DOMINGO | 04 DE AGOSTO
14h00: Pan-cinema permanente, de Carlos Nader (Brasil, 2008. 83’)
Retrato sem retoques do poeta e compositor baiano Waly Salomão.

18h00: Ex-isto, de Cao Guimarães (Brasil, 2010. 86’)
Livremente inspirado na obra Catatau, de Paulo Leminski, que imaginou uma hipótese poética/histórica: e se René Descartes tivesse vindo ao Brasil com Maurício de Nassau?.

TERÇA | 06 DE AGOSTO
14h00:  Pan-cinema permanente, de Carlos Nader (Brasil, 2008. 83’)

QUARTA | 07 DE AGOSTO
14h00: Assaltaram a gramática, de Ana Maria Magalhães (Brasil, 1984. 13’)
Gregório de Mattos, de Ana Carolina Teixeira Soares (Brasil, 2003. 70’)

QUINTA | 08 DE AGOSTO
14h00: Caramujo flor, de Joel Pizzini (Brasil, 1989. 20’)

O canto e a fúria, de Zelito Viana (Brasil, 1994. 55’)

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