foto: divulgação
A partir de textos e
entrevistas de Simone de Beauvoir, a diretora Lucia Murat investiga a velhice em seu novo filme: “Em três atos”. Com estreia marcada para o dia
10 de Dezembro, o ensaio
audiovisual entre a ficção e o documentário traz Nathalia Timberg, Andréa
Beltrão e as bailarinas Angel Vianna e Maria Alice Poppe.
A
temática do filme é baseada na literatura de Simone de Beauvoir, vocês
tiveram alguma dificuldade no momento de roteirizar o filme? Quanto tempo
de pesquisa para chegar no projeto final?
Foram três anos de pesquisa
até chegar no roteiro final. Primeiro, tinha uma idéia de usar a dança, através
do espetáculo com Angel Vianna ( 85 anos) e Maria Alice Poppe (no auge do
vigor), contrapondo os dois corpos das bailarinas, e utilizar os textos de
Simone de Beauvoir sobre a velhice. Durante a pesquisa, conheci o livro “Une
mort três douce”, que nunca tinha sido publicado no Brasil, e ao lê-lo descobri
um texto poético muito bonito e que poderia ter esse contraponto também nos
textos. E ai surgiu a idéia de termos a intelectual hoje, aos 85 anos, refletindo
sobre a velhice e morte, e a mesma intelectual, aos 45, sentindo a morte
da mãe. Então, resolvemos, através da nossa co-produtora francesa, Milena
Poylo, pedir à Editora Gallimard o direito dos dois livros. O roteiro teve
então de ser submetido à editora e à herdeira de Simone de Beauvoir para ser
aprovado.
2. Você utiliza de expressões artísticas
diferentes: a dança e a atuação. Existe algumas diferença na direção do
trabalho corporal?
Sim. Primeiro, é preciso
destacar que partimos de uma coreografia feita pelo João Saldanha, que nos
acompanhou durante a filmagem e que aceitou o fato de fazermos uma
desconstrução do espetáculo original para ser adaptado ao cinema e
particularmente ao nosso roteiro. Me ajuda muito também nesse trabalho o fato
de ter sido bailarina quando jovem. Quanto à dramaturgia, era também um
trabalho muito diferente do que fazemos numa narrativa tradicional, pois se
tratava de interpretar textos literários . E para isso contei muito com o apoio
das atrizes.
3. O filme mistura literatura, ficção e documentário abordando um assunto
questionado nos dias atuais. Você fala da velhice de forma muito natural e
poética. Qual é a importância da velhice para você? Na sua opinião, existe
diferença no envelhecimento entre homens e mulheres?
Na verdade, a ideia do filme
partiu da minha sensação de viver o envelhecimento. E o interessante nesse
processo é que num primeiro momento tinha pensado em fazer uma coisa mais
raivosa mostrando como a sociedade isola os velhos. Mas o contato com o textos
da Simone e com o espetáculo de dança levou a um resultado poético, onde sem
deixar de mostrar esse isolamento, mostra também a importância de se continuar
produzindo,como a própria Simone de Beauvoir fez, e como Angel e Nathalia
fazem.
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